Mario Quintana

"Todos estes que ai estão atravacando meu caminho,eles passarão,eu passarinho"

Quem sabe um dia Quem sabe um seremos Quem sabe um viveremos Quem sabe um morreremos! Quem é que Quem é macho Quem é fêmea Quem é humano, apenas! Sabe amar Sabe de mim e de si Sabe de nós Sabe ser um! Um dia Um mês Um ano Um(a) vida! Sentir primeiro, pensar depois Perdoar primeiro, julgar depois Amar primeiro, educar depois Esquecer primeiro, aprender depois Libertar primeiro, ensinar depois Alimentar primeiro, cantar depois Possuir primeiro, contemplar depois Agir primeiro, julgar depois Navegar primeiro, aportar depois Viver primeiro, morrer depois. (Mario Quintana)

Tenta esquecer-me...Ser lembrado é comoevocar-se um fantasma...Deixa-me sero que sou,o que sempre fui,um rio que vai fluindo...Em vão, em minhas margens cantarão as horas,me recamarei de estrelas como um manto real,me bordarei de nuvens e de asas,às vezes virão em mim as crianças banhar-se...Um espelho não guarda as coisas refletidas!E o meu destino é seguir...é seguir para o Mar,as imagens perdendo no caminho...Deixa-me fluir,passar,cantar...toda a tristeza dos rios é não poderem parar! (Mário Quintana)

Minha vida não foi um romance...Nunca tive até hoje um segredo.Se me amas, não digas, que morroDe surpresa... de encanto... de medo...Minha vida não foi um romance...Minha vida passou por passar.Se não amas, não finjas, que vivo.Esperando um amor para amar.Minha vida não foi um romance...Pobre vida... passou sem enredo...Glória a ti que me enches a vidaDe surpresa, de encanto, de medo! Minha vida não foi um romance...Ai de mim... Já se ia acabar! Pobre vida que toda depende.De um sorriso... de um gesto... um olhar... (Mario Quintana)

3 ANOS: ELA OLHA PRA SI MESMA E VÊ UMA RAINHA. AOS 8 ANOS: ELA OLHA PRA SI E VÊ CINDERELA. AOS 15 ANOS: ELA OLHA E VÊ UMA FREIRA HORROROSA. AOS 20 ANOS: ELA OLHA E SE VÊ MUITO GORDA, MUITO MAGRA, MUITO ALTA, MUITO BAIXA, MUITO LISO, MUITO ENCARACOLADO, DECIDE SAIR MAS... VAI SOFRENDO... AOS 30 : ELA OLHA PRA SI MESMA E VÊ MUITO GORDA/ MUITO MAGRA, MUITO ALTA/ MUITO BAIXA, MUITO LISO/ MUITO ENCARACOLADO, MAS DECIDE QUE AGORA NÃO TEM TEMPO PRA CONSERTAR ENTÃO VAI SAIR ASSIM MESMO... . AOS 40 : ELA SE OLHA.... VÊ MUITO GORDA, MUITO MAGRA, MUITO ALTA, MUITO BAIXA, MUITO LISO, MUITO ENCARACOLADO, MAS DIZ: PELO MENOS EU SOU UMA BOA PESSOA... E SAI MESMO ASSIM... AOS 50 ANOS: ELA OLHA PRA SI MESMA E SE VÊ COMO É...SAI E VAI PRA ONDE ELA BEM ENTENDER... . AOS 60 ANOS: ELA SE OLHA E LEMBRA DE TODAS AS PESSOAS QUE NÃO PODEM MAIS SE OLHAR NO ESPELHO...SAI DE CASA E CONQUISTA O MUNDO... AOS 70 ANOS: ELA OLHA PRA SI E VÊ SABEDORIA, RISOS, HABILIDADES, SAI PARA O MUNDO E APROVEITA A VIDA... AOS 80 ANOS: ELA NÃO SE INCOMODA MAIS EM SE OLHAR... PÕE SIMPLESMENTE UM CHAPÉU VIOLETA E VAI SE DIVERTIR COM O MUNDO... . TALVEZ DEVÊSSEMOS POR AQUELE CHAPÉU VIOLETA MAIS CEDO... (Mário Quintana)

Não sei por que, sorri de repente.E um gosto de estrela me veio na boca...Eu penso em ti, em Deus, nas voltas inumeráveis que fazem os caminhos...Em Deus, em ti, de novo...Tua ternura tão simples...Eu queria, não sei por que, sair correndo descalço pela noite imensa.E o vento da madrugada me encontraria morto junto de um arroio,Com os cabelos e a fronte mergulhados na água límpida... há os que fazem materializações…grande coisa! eu faço desmaterializações.subjetivações de objetos.inclusive sorrisos,como aquele que tu me deste um dia com o mais puro azul dos teus olhose nunca mais nos vimos (na verdade, a gente nunca mais se vê…) no entanto,há muito que ele faz parte de certos estados do céu,de certos instantes de serena, inexplicável alegria,assim como um vôo sozinho põe um gesto de adeus na paisagem,como uma curva de caminho,anônima,torna-se às vezes a maior recordação de toda uma volta ao mundo!

A vida é um incêndio: nela dançamos, salamandras mágicas.Que importa restarem cinzas se a chama foi bela e alta? Em meio aos toros que desabam,cantemos a canção das chamas! Cantemos a canção da vida,na própria luz consumida...(Mário Quintana)

Nós vivemos num mundo de espelhos,mas os espelhos roubam nossa imagem...Quando eles se partirem numa infinidade de estilhas seremos apenas pó tapetando a paisagem.Homens virão, porém, de algum mundo selvageme, com estes brilhantes destroços de vidro,nossas mulheres se adornarão, seus filhos inventarão um jogo com o que sobrar dos ossos.E não posso terminar a visão porque ainda não terminou o soneto e o tempo é uma tela que precisa ser tecida...Mas quem foi que tomou agora o fio da minha vida? Que outro lábio canta, com a minha voz perdida,nossa eterna primeira canção?! (Mario Quintana)

No retrato que me faço- traço a traço -às vezes me pinto nuvem,às vezes me pinto árvore...às vezes me pinto coisasde que nem há mais lembrança...ou coisas que não existemmas que um dia existirão...e, desta lida, em que busco- pouco a pouco -minha eterna semelhança,no final, que restará? Um desenho de criança...Corrigido por um louco!

A vida é uns deveres que nós trouxemos para fazer em casa.Quando se vê, já são 6 horas: há tempo...Quando se vê, já é 6ªfeira...Quando se vê, passaram 60 anos...Agora, é tarde demais para ser reprovado...E se me dessem - um dia - uma outra oportunidade,eu nem olhava o relógio.seguia sempre, sempre em frente ...E iria jogando pelo caminho a casca dourada e inútil das horas. Mario Quintana


O pintor Waldeny Elias atende à campainha de seu ateliê na rua General Vitorino e lá está Mario Quintana. Viera agradecer pelo presente, uma “pintura de bolso”, de 6 cm x 4 cm. Levava-a, contou com um sorriso português, “na algibeira do fato domingueiro”. Retribuiu presenteando o velho amigo com o recém-lançado livro Do Caderno H.Na dedicatória, justificou porque não havia aceito um quadro grande que o pintor lhe oferecera.- "Elias, me desculpe e acredite. Eu não tenho paredes". Só tenho horizontes...(Juarez Fonseca, Oras bolas - O humor cotidiano de Mario Quintana, Artes e Oficios, Porto Alegre, 1996)

No fim tu hás de ver que as coisas mais leves são as únicasque o vento não conseguiu levar:Um estribilho antigoum carinho no momento precisoo folhear de um livro de poemaso cheiro que tinha, um diao próprio vento...(Mario Quintana)

Não te irrites, por mais que te fizerem...Estuda, a frio, o coração alheio.Farás, assim, do mal que eles te querem, Teu mais amável e sutil recreio... (Mario Quintana)