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Att:UéL Moderador
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▼
2009
(196)
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▼
março
(60)
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►
mar. 14
(21)
- Recordo ainda...
- Os rios
- Olho as Minhas Mãos
- Lágrimas
- Os degraus
- Dia de chuva
- Eu ouço música
- O Anjo da escada
- O mapa
- Presença
- Deficiências
- Os relógios
- Eu escrevi um poema triste
- Se eu fosse um padre
- As Mãos de Meu Pai por Mario Quintana
- Viver
- Caminho
- Eu queria trazer-te uns versos muito lindos
- Os poemas
- Conversa Fiada
- O Velho do Espelho
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ORDEM ALFABETICA
- A arte de ser feliz (1)
- A Chuva Chove (1)
- A cor da lágrima (1)
- A Criança (1)
- A esperança (1)
- A folha (1)
- A que está sempre alegre (1)
- A Rua dos Cataventos (1)
- A vida ao redor de si mesma (1)
- A voz de amigo (1)
- Abraçar (1)
- Adormecida (1)
- Ainda que mal (1)
- Alegria (2)
- Algumas homenagens (1)
- Alma errada (1)
- Amar sem mentir (1)
- Amar.... (1)
- Amigos para sempre (1)
- Amizade (1)
- Amor (2)
- Amor é síntese (1)
- Amor ideal (1)
- Apenas um lembrete (1)
- Aqui Está minha Vida (1)
- As Mãos de Meu Pai por Mario Quintana (1)
- As sem-razões do amor (1)
- Astrologia (1)
- Atitude (1)
- Bateu a porta... (1)
- Biografia (1)
- Bons amigos (1)
- Caminho (1)
- Canção do dia de sempre (1)
- Canção do fundo do tempo (1)
- Canção dos romances perdidos (1)
- Canção para uma valsa lenta (1)
- Certa vez (1)
- Chapéu violeta (1)
- Cigana (1)
- Coisas Incríveis no Céu e na Terra (1)
- Coisas que eu sinto (1)
- Confissão (1)
- Conversa Fiada (1)
- Da Observação (1)
- Das falsas posições (1)
- Deficiências (1)
- Deixe-me seguir para o mar (1)
- Depois do Sol... (1)
- Desacreditada (1)
- Desejo por você (1)
- Dia de chuva (1)
- Do amoroso esquecimento (1)
- Doce mente (1)
- Dos milagres (1)
- É Preciso Não Esquecer Nada (1)
- Elogio Desconstrutivo (1)
- Embalos da vida (1)
- Era um lugar (1)
- Escolha (1)
- Escrito nas estrelas (1)
- Estive procurando você (1)
- Eterno (1)
- Eu escrevi um poema triste (1)
- Eu faço versos (1)
- Eu fiz um poema (1)
- Eu ouço música (1)
- Eu queria trazer-te uns versos muito lindos (1)
- Eu sei que vou te amar (1)
- Eu vi (1)
- Flor (1)
- Gargalhada (1)
- Garoto (1)
- Gesso (1)
- Hoje não havia você (1)
- Idéias Íntimas (1)
- Idéias Íntimas II (1)
- Idéias Íntimas III (1)
- Idéias Íntimas IV (1)
- Idéias Íntimas V (1)
- In-Coerência (1)
- Incertezas (1)
- Indiferente Coração (1)
- Indivisíveis (1)
- Inesquecível (1)
- Inscrição para um portão de cemitério (1)
- Inscrição para uma lareira (1)
- Insensata (1)
- Interlúdio (1)
- Já Não Te Entendo (1)
- Jardim interior (1)
- Karma (1)
- Lágrimas (1)
- Liberdade (1)
- Me decepcionei (1)
- Me diz (1)
- Metade (1)
- Meu amor (1)
- Meu conto de fadas (1)
- Meu segredo (1)
- Monumento (1)
- Muitos amores (1)
- Mulher Perfeita (1)
- Nada como o tempo (1)
- Não sei (1)
- Nossa amizade (1)
- Noturno (1)
- O amanhã (1)
- O amor (1)
- O amor eterno (1)
- O Anjo da escada (1)
- O auto-retrato (1)
- O autor por si mesmo (1)
- O mapa (1)
- O menino louco (1)
- O morto (1)
- O nada (1)
- O que o vento não levou (1)
- O silêncio (1)
- O tempo é (1)
- O Velho do Espelho (1)
- O velho ea flor (1)
- Obras (1)
- Odeio-me por te amar (1)
- Olho as Minhas Mãos (1)
- Oposto (1)
- Os degraus (1)
- Os poemas (1)
- Os relógios (1)
- Os rios (1)
- Os ventos (1)
- Paz e harmonia (1)
- Pedra de calcutá (1)
- Pensamentos (1)
- Perco-me (1)
- Perdido de amor (1)
- Pergunte (1)
- Pode ser (1)
- Poema a mãe (1)
- Poema do Contra (1)
- Por esse amor (1)
- Presença (1)
- Quando a noite cai (1)
- Quando bate o coração (1)
- Que assim seja a primavera (1)
- que é tudo... (1)
- Quem sabe um dia (1)
- Quero (1)
- Quero saber (1)
- Quero você (1)
- Recordo ainda... (1)
- Saudades de você (1)
- Se eu fosse um padre (1)
- Se eu soubesse... (1)
- Se o poeta falar num gato (1)
- Segue teu destino (1)
- Seiscentos e sesenta e seis (1)
- Sem comentários (1)
- Sem discriminação (1)
- Sem razões do amor (1)
- Sem ti (1)
- Sentimento (1)
- Sentimento inesquecível (1)
- Sentir (1)
- Ser sua namorada... (1)
- Seriam elas... (1)
- Só Você (1)
- Solidão (1)
- Somente um olhar... (1)
- Soneto Azul (1)
- Suas Mãos (1)
- Súplica (1)
- Tão linda e serena e bela (1)
- Três quadros (1)
- Tristeza sem você (1)
- Um anjo (1)
- Um beijo (1)
- Um coração... (1)
- Um dia (1)
- Um grande amor (1)
- Um sonho (1)
- Uma flor pra você (1)
- Vagando só... (1)
- Vale a pena (1)
- Vidas (1)
- Vivendo sem você (1)
- Viver (1)
- Viver a dois (1)
- Você (1)
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O meu amor, o meu amor, Maria É como um fio telegráfico da estrada Aonde vêm pousar as andorinhas...De vez em quando chega uma E canta(Não sei se as andorinhas cantam, mas vá lá!)Canta e vai-se embora Outra, nem isso,Mal chega, vai-se embora.A última que passou Limitou-se a fazer cocô No meu pobre fio de vida! No entanto, Maria, o meu amor é sempre o mesmo:As andorinhas é que mudam. (Mario Quintana)
Tão bom viver dia a dia…A vida assim, jamais cansa… Viver tão só de momentos.Como estas nuvens no céu… E só ganhar, toda a vida,Inexperiência… esperança… E a rosa louca dos ventosPresa à copa do chapéu. Nunca dês um nome a um rio:Sempre é outro rio a passar. Nada jamais continua,Tudo vai recomeçar! E sem nenhuma lembrança Das outras vezes perdidas,Atiro a rosa do sonho Nas tuas mãos distraídas… (Mario Quintana)
Quando desperto mansamente agora é todo um sonho azul minha janela e nela ficam presos esses olhos amando-te no céu que faz lá fora.Tu me sorris em tudo, misteriosa...e a rua que - tal como outrora - desço,a velha rua, eu mal a reconheço em sua graça de menina-moça...Riso na boca e vento no cabelo,delas vem vindo em bando...E ao vê-lopor um acaso olha-me a mais bela.Sabes eu amo-te a perder de vista...E bebo então, com uma saudade louca,teu grande olhar azul nos olhos dela! (Mário Quintana)
Era um lugar em que Deus ainda acreditava na gente...Verdade que se ia à missa quase só para namorar mas tão inocentemente que não passava de um jeito, um tanto diferente,de rezar enquanto, do púlpito, o padre clamava possesso contra pecados enormes.Meu Deus, até o Diabo envergonhava-se.Afinal de contas, não se estava em nenhuma Babilônia...Era só uma cidade pequena,com seus pequenos vícios e suas pequenas virtudes:um verdadeiro descanso para a milícia dos Anjos comsuas espadas de fogo.- um amor! Agora, aquela antiga cidadezinha está dormindo para sempreem sua redoma azul, em um dos museus do Céu.(Mario Quintana - Baú de Espantos)
Minha estrela não é a de Belém:A que, parada, aguarda o peregrino.Sem importar-se com qualquer destino.A minha estrela vai seguindo além...— Meu Deus, o que é que esse menino tem? —Já suspeitavam desde eu pequenino.O que eu tenho? É uma estrela em desatino...E nos desentendemos muito bem!E quando tudo parecia a mesmo E nesses descaminhos me perdia.Encontrei muitas vezes a mim mesmo...Eu temo é uma traição do instinto Que me liberte, por acaso, um dia Deste velho e encantado Labirinto. (Mario Quintana)
Que esta minha paz e este meu amado silêncio Não iludam a ninguém Não é a paz de uma cidade bombardeada e deserta Nem tampouco a paz compulsória dos cemitérios Acho-me relativamente feliz Porque nada de exterior me acontece...Mas,Em mim, na minha alma,Pressinto que vou ter um terremoto! (Mario Quintana)
Da vez primeira em que me assassinaram,Perdi um jeito de sorrir que eu tinha.Depois, a cada vez que me mataram,Foram levando qualquer coisa minha.Hoje, dos meu cadáveres eu sou O mais desnudo, o que não tem mais nada. Arde um toco de Vela amarelada,Como único bem que me ficou.Vinde! Corvos, chacais, ladrões de estrada! Pois dessa mão avaramente adunca Não haverão de arracar a luz sagrada! Aves da noite! Asas do horror! Voejai! Que a luz trêmula e triste como um ai,A luz de um morto não se apaga nunca! (Mario Quintana)
Se o poeta falar num gato, numa flor,Num vento que anda por descampados e desvios.E nunca chegou à cidade...Se falar numa esquina mal e mal iluminada...Numa antiga sacada...num jogo de dominó...Se falar naqueles obedientes soldadinhos de chumbo que morriam de verdade...Se falar na mão decepada no meio de uma escada de caracol...Se não falar em nada.E disser simplesmente tralalá...Que importa? Todos os poemas são de amor! (Antologia poética. Porto Alegre: Globo, 1972 p.105)
Quem sabe um dia Quem sabe um seremos Quem sabe um viveremos Quem sabe um morreremos! Quem é que Quem é macho Quem é fêmea Quem é humano, apenas! Sabe amar Sabe de mim e de si Sabe de nós Sabe ser um! Um dia Um mês Um ano Um(a) vida! Sentir primeiro, pensar depois Perdoar primeiro, julgar depois Amar primeiro, educar depois Esquecer primeiro, aprender depois Libertar primeiro, ensinar depois Alimentar primeiro, cantar depois Possuir primeiro, contemplar depois Agir primeiro, julgar depois Navegar primeiro, aportar depois Viver primeiro, morrer depois. (Mario Quintana)
Tenta esquecer-me...Ser lembrado é comoevocar-se um fantasma...Deixa-me sero que sou,o que sempre fui,um rio que vai fluindo...Em vão, em minhas margens cantarão as horas,me recamarei de estrelas como um manto real,me bordarei de nuvens e de asas,às vezes virão em mim as crianças banhar-se...Um espelho não guarda as coisas refletidas!E o meu destino é seguir...é seguir para o Mar,as imagens perdendo no caminho...Deixa-me fluir,passar,cantar...toda a tristeza dos rios é não poderem parar! (Mário Quintana)
Minha vida não foi um romance...Nunca tive até hoje um segredo.Se me amas, não digas, que morroDe surpresa... de encanto... de medo...Minha vida não foi um romance...Minha vida passou por passar.Se não amas, não finjas, que vivo.Esperando um amor para amar.Minha vida não foi um romance...Pobre vida... passou sem enredo...Glória a ti que me enches a vidaDe surpresa, de encanto, de medo! Minha vida não foi um romance...Ai de mim... Já se ia acabar! Pobre vida que toda depende.De um sorriso... de um gesto... um olhar... (Mario Quintana)
3 ANOS: ELA OLHA PRA SI MESMA E VÊ UMA RAINHA. AOS 8 ANOS: ELA OLHA PRA SI E VÊ CINDERELA. AOS 15 ANOS: ELA OLHA E VÊ UMA FREIRA HORROROSA. AOS 20 ANOS: ELA OLHA E SE VÊ MUITO GORDA, MUITO MAGRA, MUITO ALTA, MUITO BAIXA, MUITO LISO, MUITO ENCARACOLADO, DECIDE SAIR MAS... VAI SOFRENDO... AOS 30 : ELA OLHA PRA SI MESMA E VÊ MUITO GORDA/ MUITO MAGRA, MUITO ALTA/ MUITO BAIXA, MUITO LISO/ MUITO ENCARACOLADO, MAS DECIDE QUE AGORA NÃO TEM TEMPO PRA CONSERTAR ENTÃO VAI SAIR ASSIM MESMO... . AOS 40 : ELA SE OLHA.... VÊ MUITO GORDA, MUITO MAGRA, MUITO ALTA, MUITO BAIXA, MUITO LISO, MUITO ENCARACOLADO, MAS DIZ: PELO MENOS EU SOU UMA BOA PESSOA... E SAI MESMO ASSIM... AOS 50 ANOS: ELA OLHA PRA SI MESMA E SE VÊ COMO É...SAI E VAI PRA ONDE ELA BEM ENTENDER... . AOS 60 ANOS: ELA SE OLHA E LEMBRA DE TODAS AS PESSOAS QUE NÃO PODEM MAIS SE OLHAR NO ESPELHO...SAI DE CASA E CONQUISTA O MUNDO... AOS 70 ANOS: ELA OLHA PRA SI E VÊ SABEDORIA, RISOS, HABILIDADES, SAI PARA O MUNDO E APROVEITA A VIDA... AOS 80 ANOS: ELA NÃO SE INCOMODA MAIS EM SE OLHAR... PÕE SIMPLESMENTE UM CHAPÉU VIOLETA E VAI SE DIVERTIR COM O MUNDO... . TALVEZ DEVÊSSEMOS POR AQUELE CHAPÉU VIOLETA MAIS CEDO... (Mário Quintana)
Não sei por que, sorri de repente.E um gosto de estrela me veio na boca...Eu penso em ti, em Deus, nas voltas inumeráveis que fazem os caminhos...Em Deus, em ti, de novo...Tua ternura tão simples...Eu queria, não sei por que, sair correndo descalço pela noite imensa.E o vento da madrugada me encontraria morto junto de um arroio,Com os cabelos e a fronte mergulhados na água límpida... há os que fazem materializações…grande coisa! eu faço desmaterializações.subjetivações de objetos.inclusive sorrisos,como aquele que tu me deste um dia com o mais puro azul dos teus olhose nunca mais nos vimos (na verdade, a gente nunca mais se vê…) no entanto,há muito que ele faz parte de certos estados do céu,de certos instantes de serena, inexplicável alegria,assim como um vôo sozinho põe um gesto de adeus na paisagem,como uma curva de caminho,anônima,torna-se às vezes a maior recordação de toda uma volta ao mundo!
Nós vivemos num mundo de espelhos,mas os espelhos roubam nossa imagem...Quando eles se partirem numa infinidade de estilhas seremos apenas pó tapetando a paisagem.Homens virão, porém, de algum mundo selvageme, com estes brilhantes destroços de vidro,nossas mulheres se adornarão, seus filhos inventarão um jogo com o que sobrar dos ossos.E não posso terminar a visão porque ainda não terminou o soneto e o tempo é uma tela que precisa ser tecida...Mas quem foi que tomou agora o fio da minha vida? Que outro lábio canta, com a minha voz perdida,nossa eterna primeira canção?! (Mario Quintana)
No retrato que me faço- traço a traço -às vezes me pinto nuvem,às vezes me pinto árvore...às vezes me pinto coisasde que nem há mais lembrança...ou coisas que não existemmas que um dia existirão...e, desta lida, em que busco- pouco a pouco -minha eterna semelhança,no final, que restará? Um desenho de criança...Corrigido por um louco!
A vida é uns deveres que nós trouxemos para fazer em casa.Quando se vê, já são 6 horas: há tempo...Quando se vê, já é 6ªfeira...Quando se vê, passaram 60 anos...Agora, é tarde demais para ser reprovado...E se me dessem - um dia - uma outra oportunidade,eu nem olhava o relógio.seguia sempre, sempre em frente ...E iria jogando pelo caminho a casca dourada e inútil das horas. Mario Quintana
Olho as minhas mãos: elas só não são estranhas Porque são minhas. Mas é tão esquisito distendê-las Assim, lentamente, como essas anêmonas do fundo do mar...Fechá-las, de repente,Os dedos como pétalas carnívoras ! Só apanho, porém, com elas, esse alimento impalpável do tempo,Que me sustenta, e mata, e que vai secretando o pensamento Como tecem as teias as aranhas.A que mundo Pertenço ?No mundo há pedras, baobás, panteras,Águas cantarolantes, o vento ventando E no alto as nuvens improvisando sem cessar.Mas nada, disso tudo, diz: "existo".Porque apenas existem...Enquanto isto,O tempo engendra a morte, e a morte gera os deuses E, cheios de esperança e medo,Oficiamos rituais, inventamos Palavras mágicas,Fazemos Poemas, pobres poemas Que o vento Mistura, confunde e dispersa no ar...Nem na estrela do céu nem na estrela do mar Foi este o fim da Criação ! Mas, então,Quem urde eternamente a trama de tão velhos sonhos ?Quem faz - em mim - esta interrogação ? (Mario Quintana)
Olho o mapa da cidadeComo quem examinasse A anatomia de um corpo...(É nem que fosse o meu corpo!)Sinto uma dor infinitaDas ruas de Porto Alegre Onde jamais passarei...Há tanta esquina esquisita,Tanta nuança de paredes,Há tanta moça bonita Nas ruas que não andei(E há uma rua encantada Que nem em sonhos sonhei...)Quando eu for, um dia desses,Poeira ou folha levada No vento da madrugada,Serei um pouco do nadaInvisível, deliciosoQue faz com que o teu ar Pareça mais um olhar,Suave mistério amoroso,Cidade de meu andar(Deste já tão longo andar!)E talvez de meu repouso...Mário Quintana
É preciso que a saudade desenhe tuas linhas perfeitas, teu perfil exato e que, apenas, levemente, o vento das horas ponha um frêmito em teus cabelos... É preciso que a tua ausência trescale sutilmente, no ar, a trevo machucado, a folhas de alecrim desde há muito guardadas não se sabe por quem nalgum móvel antigo...Mas é preciso, também, que seja como abrir uma janela e respirar-te, azul e luminosa, no ar.É preciso a saudade para eu te sentir como sinto-em mim- a presença misteriosa da vida...Mas quando surges és tão outra e múltipla e imprevista que nunca te pareces com o teu retrato...E eu tenho de fechar meus olhos para ver-te! (Mário Quintana)
Amigos, não consultem os relógios quando um dia eu me for de vossas vidasem seus fúteis problemas tão perdidas que até parecem mais uns necrológios...Porque o tempo é uma invenção da morte:não o conhece a vida - a verdadeira -em que basta um momento de poesia para nos dar a eternidade inteira.Inteira, sim, porque essa vida eterna somente por si mesma é dividida:não cabe, a cada qual, uma porção.E os Anjos entreolham-se espantados quando alguém - ao voltar a si da vida -acaso lhes indaga que horas são...Mario Quintana
Eu escrevi um poema triste E belo, apenas da sua tristeza.Não vem de ti essa tristeza Mas das mudanças do Tempo,Que ora nos traz esperanças Ora nos dá incerteza...Nem importa, ao velho Tempo,Que sejas fiel ou infiel...Eu fico, junto à correnteza,Olhando as horas tão breves...E das cartas que me escrevesFaço barcos de papel! Mario Quintana
Se eu fosse um padre, eu, nos meus sermões,não falaria em Deus nem no Pecado- muito menos no Anjo Rebeladoe os encantos das suas seduções,não citaria santos e profetas:nada das suas celestiais promessasou das suas terríveis maldições...Se eu fosse um padre eu citaria os poetas,Rezaria seus versos, os mais belos,desses que desde a infância me embalarame quem me dera que alguns fossem meus!Porque a poesia purifica a alma... a um belo poema - ainda que de Deus se aparte -um belo poema sempre leva a Deus! Mário Quintana
As tuas mãos têm grossas veias como cordas azuis sobre um fundo de manchas já cor de terra - como são belas as tuas mãos pelo quanto lidaram, acariciaram ou fremiram da nobre cólera dos justos... Porque há nas tuas mãos, meu velho pai,essa beleza que se chama simplesmente vida. E, ao entardecer, quando elas repousam nos braços da tua cadeira predileta, uma luz parece vir de dentro delas... Virá dessa chama que pouco a pouco, longamente, vieste alimentando na terrível solidão do mundo, como quem junta uns gravetos e tenta acendê-los contra o vento? Ah! Como os fizeste arder, fulgir, com o milagre das tuas mãos! E é, ainda, a vida que transfigura as tuas mãos nodosas... essa chama de vida - que transcende a própria vida e que os Anjos, um dia, chamarão de alma. Mario Quintana
Quem nunca quis morrer. Não sabe o que é viver Não sabe que viver é abrir uma janela E pássaros pássaros sairão por ela E hipocampos fosforescentes Medusas translúcidas Radiadas Estrelas-do-mar... Ah,Viver é sair de repente Do fundo do mar E voar...e voar...cada vez para mais alto Como depois de se morrer! Mário Quintana
Mário Quintana
Eu queria trazer-te uns versos muito lindos colhidos no mais íntimo de mim...Suas palavras seriam as mais simples do mundo, porém não sei que luz as iluminaria que terias de fechar teus olhos para as ouvir...Sim! Uma luz que viria de dentro delas,como essa que acende inesperadas coresnas lanternas chinesas de papel! Trago-te palavras, apenas... e que estão escritasdo lado de fora do papel... Não sei, eu nunca soube o que dizer-tee este poema vai morrendo, ardente e puro, ao ventoda Poesia...comouma pobre lanterna que incendiou! Mario Quintana
Os poemas são pássaros que chegam não se sabe de onde e pousam no livro que lês.Quando fechas o livro, eles alçam vôo como de um alçapão.Eles não têm pouso nem porto alimentam-se um instante em cada par de mão se partem.E olhas, então, essas tuas mãos vazias,no maravilhado espanto de saberes que o alimento deles já estava em ti... (Mario Quintana)
Eu gosto de fazer poemas De um único verso Até mesmo de uma única palavra Como quando escrevo o teu nome.No meio da página.E fico pensando mais ou menos em ti Porque penso, também, em tantas coisas...Em ninhos, não sei por que, vazios,Em meio a uma estrada deserta;Penso em súbitos cometasanunciadores do novo mundo;E imagine!...Penso em meus primeiros exercícios de álgebra.Eu que tanto, tanto os odiava!Eu que naquele tempo vivia dopando-meEm cores, dores, amores...Ah... prometo àqueles meus professores desiludidosQue na próxima vida serei um grande matemáticoPorque a matemática é o único sentimento sem dor.Prometo, prometo sim...Estou mentindo?!Estou!Na verdade, é tão bom morrer de amor.E continuar vivendo! Mário Quintana